LONDRES — Longe de uma ser uma floresta intocada que se estende por milhares de quilômetros, a Amazônia foi o lar de milhões de pessoas que ocuparam enormes faixas de terra antes da chegada dos europeus, que causaram o colapso de suas sociedades, segundo um novo estudo liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A equipe internacional de pesquisadores concluiu que a população mínima no ano de 1492 seria de oito milhões de pessoas, com um “improvável” topo de 50 milhões. O levantamento sugere que a floresta retornou ao ambiente desabitado depois que as civilizações foram dizimadas por doenças e pela chegada dos europeus.
As conclusões dos cientistas são parcialmente baseadas em um dos poucos sinais remanescentes das civiizações - o solo escuro e fértil produzido por terras agrícolas e resíduos. Algumas dessas regiões são acessíveis apenas por causa do desmatamento.
A pesquisa considerou relatos dos primeiros europeus que visitaram a América do Sul, que foram desmentidos nos séculos seguintes por serem considerados apenas peças de propaganda.
Em 1542, o padre espanhol Gaspal de Carvajal escreveu: “Há uma cidade que se estica por 24 quilômetros sem qualquer espaço entre uma casa e outra”.
Autor chefe da pesquisa, Charles Clement, do Inpa, afirmou que o bioma hoje “evoca imagens de densas florestas tropicais, nativos pintados e emplumados, fauna e flora exóticas, bem como um local de desmatamento desenfreado, biodiversidade extinta e que sofre com mudanças climáticas”.
Clement indicou evidências de um considerável impacto humano. De acordo com um dos modelos considerados pela pesquisa, o solo extremamente escuro, conhecido como terra preta, teria coberto uma área de mais de 150 mil quilômetros quadrados da floresta — cerca de 3,2% de sua área total.
A ideia de uma Amazônia domesticada, a imensa diversidade de processos sociais, culturais “e históricos que moldaram o bioma durante o Holoceno, situa esta vasta área na companhia de outros áreas dominadas pelo homem”, escreveram os pesquisadores na revista “Proceedings of the Royal Society B”. “Isso contrasta fortemente com relatos de uma floresta vazia, que continua cativando meios científicos e populares.”
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